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“Cultura está à deriva e discórdia nas redes sociais devido à falta de informação”

Na coluna de hoje, Elmar Santos tem - Um Dedo de Prosa, com MARAVILHOSA Educadora Vera Ribeiro de Carvalho. Em seis perguntas, ela fala sobre a evolução da educação e diversos temas polêmicos.

Atualizado em 05/05/2020 21:50:31

VERA RIBEIRO DE CARVALHO – Professora de Língua Portuguesa. Foi Secretária Municipal de Cultura na gestão 2001-2004, quando então reativou o FEMUG, que estava extinto desde 1995.
Trabalhou na Secretaria de Cultura na gestão 20013/2016, a convite do então Secretário Pedro Marques, exercendo a função de Chefe da Divisão de Promoção e Eventos na Secretaria de Cultura de Goioerê..
Foi integrante de todas as comissões que promoveram os eventos dos Dinossauros de Goioerê, sendo responsável pelos saraus e outros eventos artísticos.
Foi Integrante de corais diversos, integrante como vocalista do Show Musical Ontem ao Luar e do Quarteto Vocal da Casa da Cultura, o qual foi desativado na atual gestão.
Atualmente é Presidente da Associação de Pioneiros e dá cursos de REDAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS PARA VESTIBULAR.


1 – Vera Ribeiro, como educadora especializada na língua portuguesa que acompanha a evolução do ensino ao longo dos anos, em que momento a senhora acha que se “perdeu a mão” no quesito de incentivo à leitura de literaturas e interpretação de textos na educação?
Eu sei que muita gente diz que isso se deve às gestões do PT. Ledo engano! Isso posso fala de cátedra... Só sobre esse tema fiz QUATRO das minhas colunas on line (seguidas, tão extenso é o assunto). Infelizmente não posso mais disponibilizar os links, porque o site foi reformulado e, na nova formatação, perderam-se todas as edições de 15 de março de 2019 para trás e essas colunas eram de setembro e outubro de 2018. Porém, caso alguém se interesse, posso disponibilizar as originais. Vou tentar ser bem sucinta... resumindo esse assunto ENORME!
Na década de 80 (mais especificamente em 1987), fiz meu Curso de Pós Graduação “Latu Sensu” em Metodologia e Prática de Ensino em Língua Portuguesa – Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Cascavel – FECIVEL. Foi exatamente quando entrei em contato com as primeiras informações sobre nosso desastroso ensino. Naquela época as notícias já diziam EXATAMENTE o que dizem até hoje: “Os universitários brasileiros, ressalvadas as exceções, têm dificuIdades de expressão oral e escrita, vivem num mundo quase sem palavras, esvaziado de ideias, e perdem aos poucos a capacidade de pensar. Mais: submetidos a provas em que lhes seja exigido um mínimo de reflexão e de esforço, revelam um completo despreparo intelectual, praticam grosseiros atentados contra o vernáculo e contra a própria cultura universal.”
Ano a ano, eram indefectíveis as notícias falando sobre o mesmo assunto. Em 2007, o colunista Cláudio de Moura Castro mostrava que agora já não eram apenas os universitários que tinham essa deficiência: “O fiasco da nossa educação fundamental começa a ser percebido. Há cada vez mais brasileiros sabendo que tiramos os últimos lugares no Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (Pisa), uma prova internacional de compreensão de leitura e de outras competências vitais em uma economia moderna. Sabem também dos resultados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), confirmando plenamente esse diagnóstico moribundo do ensino.”
Em agosto de 2008, a Veja já publicava: “No último ranking internacional mais respeitado, o Brasil aparece em situação vexaminosa – os melhores alunos brasileiros ficam nas últimas colocações – abaixo da quinquagésima posição em competições com apenas 57 países.”
Em setembro de 2018, um artigo de Maria Clara Vieira deixava claro: “Uma nova radiografia do ensino básico, divulgada pelo MEC, mostra que a imensa maioria dos alunos não aprendeu quase nada e seguirá assim até sair da escola”.
No governo Temer, o Ministro da Educação Rossieli Soares mostrou-se surpreso ao constatar essas verdades (por aí já se vê que não é de hoje que se nomeiam ministros sem noção nessa área...)
O livro País mal educado, do autor Daniel Barros, que foi lançado em setembro de 2018, esclarece muitos pontos sobre os motivos que levaram a isso. Aponta claramente talvez a causa mais séria: “Ao longo dos anos 1970, 1980 e 1990, os cursos de Pedagogia partiam do pressuposto de que os universitários aprenderiam a ensinar na prática e, portanto, focava sobretudo discussões mais teóricas. Focam demais o conteúdo das disciplinas e muito pouco em como ensiná-las”
Uma das coisas que ficam bem claras – e com a qual concordo em gênero, número e grau – é que os cursos de Pedagogia continuam não priorizando a FORMAÇÃO de professores NA PRÁTICA. Incoerência, essa afirmação?
Não! Tenho constatado isso bem “de pertinho”... Os cursos são muito bons, sem dúvida... mas não cumprem o que deveria ser o seu principal papel, qual seja o de “ensinar a ensinar”.
Então é isso... Não consegui ser mais sucinta, perdoem-me. Haveria muito, mas muito mais mesmo, a dizer...
Penso também que de nada adiantará o atual governo insistir em militarizar todas as escolas do país sem fazer nada em relação aos professores. Sem lhes dar o devido respaldo... Coisa que estou achando difícil acontecer quando vemos uma Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos se intrometendo na pasta da Educação, que já está muito mal gerida, querendo implantar o tal ensino domiciliar, pois, segundo ela,“O pai que senta com o aluno duas, três horas por dia, pode estar aplicando mais conteúdo que a escola durante quatro, cinco horas por dia” ( e olhem que isso nada tem a ver com esta fase de corona vírus...). Por ela, seria somente o que passaria a ter, mas recebeu uns “não pode” do STF, então, colocou que “ninguém será obrigado a adotar”. Menos mal.
Então, é isso... Aquele dito de Albert Einten se aplica como uma luva a esta situação: “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.

2 – Neste momento crítico, porém histórico, em que medida a boa leitura e interpretação dos textos influencia no entendimento da real situação brasileira?
Em tudo! Se quisermos ter uma boa prova disso... basta ver os “entreveros” e discórdias causados nas redes sociais pela falta da informação e também pelo excesso de fake news, que ajudam a manter alguns leitores (e “eleitores”...) fora desse entendimento da situação real...
3 – Mudando de assunto, e a cultura? Como você vê a cena cultural local e nacional? Onde há ou pode haver contribuição?
Então... Você, hein? Só assuntos polêmicos! rsrsrs! Após declarações ouvidas de presidente e alguns ministros... após esse troca-troca deles... após a redução do Ministério da Cultura a simples Secretaria... “jogando-a”, depois, para o Ministério do Turismo... por fim colocando-a na mão de Regina Duarte, que até agora me parece meio perdida... após a drástica diminuição de verba da Lei Rouanet (que, na minha opinião, precisava apenas ser controlada, vigiada, mais bem gerida)... também quando vejo a mesma ministra acima citada metendo-se em tudo... sabendo que ela tem um conceito bem restrito sobre o que é Arte... confesso que não tenho muitas expectativas, não.
A local, aqui, está bem à deriva... conseguiram acabar com um dos maiores festivais de música daqui, que era o FEMUG... acabaram com uma série de outros projetos... A política parece ser apenas a oferta de cursos na Casa da Cultura. Eventos não acontecem há “séculos”...
Onde pode haver contribuição?
Bom... diante de tudo o que já disse... estou rindo, aqui! rsrsrs!

4 – A senhora tem algum projeto ou desejo de pôr em prática algo para o “pós pandemia”? Qual?
Gostaria de realizar uma boa porcentagem das metas a que me propus, justamente com nossa diretoria da Associação Goioerense de Pioneiros... mas que agora já estão tão prejudicadas que nem sei o que esperar... Muitas coisas já estavam “engatilhadas” quando veio o corona vírus e jogou um balde de água fria nos planos...
5 – Agora a senhora tem “um bilhão de dólares’, o que irá fazer?
Rapaz! Um bilhão? Claro que eu, primeiro, ajeitaria a minha e a vidinha dos meus filhos... depois estudaria entidades merecedoras de doações ou outro tipo de ação... Provavelmente eu mesma fundaria uma beneficente daquelas que abrigam projetos culturais e esporte, como o Viva a Vila (que com certeza ficaria com uma bela parte desse dinheiro!) e depois... VIAJAR... VIAJAR... VIAJAR... pelo Brasil e pelo mundo! Conhecer os principais museus... os centros de cultura europeus... Conhecer mais centros históricos aqui do Brasil (coisa pelo que sou apaixonada!) e mais cidades da nossa terrinha!
6 – O que a senhora gostaria de falar e nunca teve oportunidade? A algo guardado? Sobre qualquer assunto inclusive o entrevistador?
Sempre tive oportunidade de falar sobre tudo o que quis, por meio de minhas colunas. O que está “guardada” é a minha enorme esperança de que essa pandemia que vivemos nos torne a todos pessoas melhores... mais sensíveis... menos egoístas... sem esse ódio que se vê hoje principalmente nas redes sociais, que nos dividem em “dois lados”... quando, na verdade, o que ambos os lados querem é o bem do Brasil.
Sobre o entrevistador... agradecer duas coisas: você ser o grande “culpado” dos eventos que temos hoje, dos “Dinosssauros”, que só acontecem porque você teve a ideia de fundar o grupo “Os Dinossauros de Goioerê” no facebook – a partir do que tudo aconteceu... e ao convite que me fez para abrir esta sessão de entrevistas (do que se arrependerá, com certeza, ao ver o tamanho da primeira resposta! kkkk!). Muito obrigada! Você sempre criando! Tem minha admiração!

Por Elmar Santos – Maio/ 2020


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